
Pesquisas mostram que a maioria das escolas públicas está oferecendo atividades remotas, mas parte das redes de ensino tem dificuldades para acessar ferramentas digitais e impor novas regras na pandemia
Jovem assiste a aula de matemática pelo celular enquanto anota no caderno
Uma pesquisa Datafolha mostra que 74% dos estudantes das redes públicas de ensino estão participando de algum tipo de atividade escolar não presencial durante a pandemia do novo coronavírus, que em março obrigou as escolas brasileiras a fechar.
A pesquisa, encomendada a pedido da organização Imaginable Futures, da Fundação Lemann e do Itaú Social, mostrou quais atividades não presenciais as escolas estão oferecendo meses depois da adoção do isolamento social e como alunos e famílias tentam se adaptar à rotina escolar, agora de maneira remota.
O levantamento foi baseado em 1.028 entrevistas por telefone com pais ou responsáveis por mais de 1.500 estudantes de escola pública de ensino fundamental e médio. A coleta dos dados ocorreu em maio. A margem de erro é de três pontos percentuais para mais ou menos, com nível de confiança de 95%.
Intitulado “ Educação não presencial ”, o estudo tem o objetivo de apoiar os gestores públicos com dados e evidências para o planejamento das ações escolares na pandemia, que, com a exigência das aulas à distância, impôs uma série de desafios para a aprendizagem de estudantes e a rotina de professores .
A pesquisa mostra que a maior parte dos pais ou responsáveis (54%) vê motivação dos estudantes para acompanhar as atividades remotas, e o aprendizado em casa está evoluindo, conforme passam os meses de quarentena. Muitos deles (82%) estão fazendo as atividades propostas pelos professores.
O levantamento também mostra que, entre os estudantes com aulas remotas, 37% receberam atividades por algum equipamento tecnológico, como celular, computador, TV ou rádio. Mais de 30% tiveram atividades pelos equipamentos e por material impresso, e outros 3% tiveram acesso apenas a impressos.
84%
dos estudantes estão dedicando mais de uma hora aos estudos por dia na quarentena; 29% dedicam mais de três horas, segundo pesquisa Datafolha sobre educação na pandemia
A maioria tem acesso a celular (95%) para acompanhar as aulas, mas, quando se trata de internet em banda larga, o grau de acesso cai (59%). Metade dos estudantes tem de um a três equipamentos com acesso à internet, 46% têm mais de quatro, e 4% não têm nenhum.
A pesquisa identificou que há desigualdades regionais no acesso às aulas. No Sul do país, quase todos (94%) os estudantes estão participando de atividades escolares. A taxa cai no Sudeste (85%), Centro-Oeste (80%), Nordeste (61%) e Norte, que tem pouco mais da metade dos alunos atendidos pelas escolas (52%).
Atualmente, estão entre os principais desafios dos estudantes a falta de acesso à internet (23%), dificuldades para compreender o conteúdo (20%), a falta de equipamentos tecnológicos necessários para acompanhar as aulas (15%) e a própria falta de interesse nas atividades da escola no período em casa, de quarentena.
“[A principal dificuldade é] conciliar meu trabalho, que é home office, com o horário para ele [estudante] fazer atividade, que é sempre depois do almoço. Pois como está só eu e ele, e ele está aprendendo a ler, tenho que ficar constantemente ao lado para ele fazer as atividades. Fica difícil por conta do meu trabalho”
Entre os estudantes que não têm nenhuma atividade presencial (24%), a maioria mora em comunidades (57%), estuda em escolas municipais (67%), é negra (60%) e está no ensino fundamental (90%). Mais de 40% vivem no Nordeste e 22%, no Norte. Em geral, os pais atribuem a situação à falta de comunicação das escolas.
As consequências da pandemia para as atividades escolares foram tema de outra pesquisa. O trabalho, realizado pelas organizações Undime (União Nacional dos Dirigentes Municipais de Educação) e Consed (Conselho Nacional dos Secretários de Educação), destaca os desafios vistos pelas secretarias de Educação.
A pesquisa , que recolheu dados das redes municipais de ensino, mostra que 60% das cidades adotaram aulas remotas depois da pandemia. As redes optaram por usar uma combinação de materiais impressos (43%), conteúdos digitais e aulas gravadas para repassar o conteúdo aos estudantes, segundo o estudo.
Entre os desafios das atividades remotas estão a ausência de regras sobre como agir, a dificuldade de professores para usar a tecnologia e a falta de equipamentos eletrônicos, tanto dos docentes quanto dos estudantes. Um quinto das redes pede orientações para a pandemia e cursos de formação de professores, segundo os dados do estudo.
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das redes municipais de ensino pedem apoio para acesso a ferramentas de ensino remoto, segundo pesquisa da Undime e Consed sobre a pandemia
A maior parte das redes que não adotaram o ensino remoto são de municípios pequenos (90%) e atendem a estudantes mais pobres, com nível de renda abaixo da média municipal. Entre elas, 59% querem implementar atividades à distância, mas não sabem como fazê-lo ou não têm as ferramentas necessárias.
A principal explicação para a diferença entre os dados deste levantamento e do Datafolha está na base de entrevistados: a pesquisa da Undime e do Consed recolheu apenas dados das redes municipais de ensino, enquanto o Datafolha incluiu também os estados.
A pesquisa da Undime e do Consed abriu um questionário para os gestores municipais e recebeu 3.978 respostas entre abril e maio. O número equivale a 71% dos municípios do país. O trabalho teve apoio da Fundação Itaú Social, da Fundação Lemann, do Cieb (Centro de Inovação para a Educação Brasileira) e do Unicef (Fundo das Nações Unidas para a Infância).
A pandemia do novo coronavírus também afetou os professores , que tiveram que se adaptar à rotina de aulas remotas e estão com novas preocupações na crise, segundo um levantamento do Instituto Península, organização da sociedade civil voltada a temas sobre educação.
A pesquisa, realizada por meio de questionários na internet, ouviu mais de 2.400 profissionais da educação básica de todo o país na primeira etapa, em março de 2020, e outros 7.734 docentes na segunda etapa, entre abril e maio, semanas depois do início do isolamento social.
Os dados mais recentes mostram que mais de 83% dos professores não se sentem preparados para o ensino remoto. A maioria (88%) não tem experiência com aulas à distância, mas, mesmo quem tem formação na área também se sentiu surpreendido pela situação, segundo o estudo.
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professores da educação básica mudaram sua rotina por causa da pandemia, segundo dados de março de pesquisa do Instituto Península
A pesquisa, que também colheu relatos, mostra ainda que metade dos entrevistados estão preocupados com a saúde mental. Mais de 70% disseram não ter recebido suporte emocional e psicológico das escolas durante a pandemia, e 55% deles gostariam desse tipo de apoio.
“Acordo e durmo nas coisas inacabadas que tenho para fazer. Passei a programar as aulas com uma semana de antecedência, então estou sempre vivendo uma semana para frente para ver se dou conta de tudo que tem que ser feito”
Entre as preocupações dos professores estão os próprios estudantes, por quem temem não só pela aprendizagem, mas pela alimentação fora das escolas, a segurança e a integridade física na pandemia, segundo o estudo. Mais de 60% estão mantendo contato com alunos neste período.
A pandemia também trouxe uma oportunidade para os professores investirem na própria formação. Mais da metade se inscreveu em novos cursos quando o isolamento começou, segundo dados de março. Mais de 65% disseram que acreditam que seu papel neste momento é espalhar informações seguras.
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