O ativismo é uma das características do jornalismo ambiental, prática (método e conceito) profissional que surgiu no Brasil há pelo menos cinco décadas, esgrimida por repórteres que incorporam uma visão ampliada e questionadora de como a sociedade percebe sua ação na natureza. Há, neste campo, um entendimento de que é preciso assumir posicionamentos diante das injustiças ambientais, da extinção de espécies e da emergência climática. Junto, aparece a preocupação em oferecer um relato jornalístico embasado, com elementos suficientes para que as pessoas possam interpretar suas realidades, compartilhar a paisagem e as condições de vida, e como nossa experiência é sempre coletiva, ou seja, está interconectada com todas as demais formas de vida.
No jornalismo ambiental, o ativismo significa compreender as causas ecologistas e suas perspectivas social e ambiental. Isso começa na proposição e na negociação de uma pauta, ou seja, quais perguntas e quais temáticas são necessárias diante do mundo de hoje. E segue na pesquisa, na imersão, na investigação apurada para sustentar boas histórias e na busca por fontes de informação que tragam pluralidade, diferentes versões e vivências. Depois, esse ativismo se entrelaça na forma de narrar, seja na notícia, na reportagem, no documentário, no podcast, no livro, isto é, como contar e envolver as diferentes vozes para uma conversa mais efetiva.
No jornalismo ambiental, o ativismo significa compreender as causas ecologistas e suas perspectivas social e ambiental. Isso começa na proposição e na negociação de uma pauta, ou seja, quais perguntas e quais temáticas são necessárias diante do mundo de hoje
Estamos falando de um sujeito engajado, sim, na luta em defesa da vida, e da vida de todas as espécies, consciente da dimensão da sustentabilidade e que exercita isso pela sua prática profissional. Não significa, entretanto, que esse jornalismo desconsidere valores intrínsecos ao campo do jornalismo, como a pluralidade e o rigor, no método e na escrita, o respeito ao público. Podemos pensar, claro, que há um "lado" nessas histórias: o interesse comum, mas não apenas o humano. E defender todas as formas de vida, e não apenas a humana, sabemos, pode sim causar estranheza porque, em geral, nossa sociedade olha tudo de modo compartimentado, sem o entendimento da relação sistêmica entre as espécies.
O jornalista ambiental é um sujeito orientado ecologicamente tanto na prática do jornalismo convencional como radicalizado no midiativismo: no espaço em que a mídia é o próprio movimento social, e isso não significa negligência com os pressupostos jornalísticos. Essa proposta dialoga com o próprio jornalismo ambiental ao indicar o envolvimento do/a jornalista como uma potência para reportar histórias de forma mais responsável e comprometida com as diferentes formas de vida.
O midiativismo, assim como o jornalismo ambiental, atua na informação, mediação e em uma certa transgressão solidária na tentativa de mudar realidades. Temos muitos exemplos dessa prática midiativista, que não começa agora, mas é facilitada (e complexificada) pelas tecnologias e pelo ambiente em rede que permite ampliação do diálogo e apropriação de várias linguagens. Vão desde o pioneiro Lúcio Flávio Pinto e sua militância - no sentido clássico do termo que disciplina uma luta - pela Amazônia que rendeu ameaças, prêmios e o colocou na lista dos cem jornalistas mais importantes do mundo do Repórteres Sem Fronteiras. Passando por Eliane Brum que se consolida como uma repórter-"escutadeira" socioambiental, que fundou o portal midiativista Sumaúma para dar conta das problemáticas da Amazônia, e também os tantos portais que resistem, há tempos, na entrega de conteúdo ambiental de qualidade como Envolverde, O Eco, Repórter Brasil, Amazônia Real, Colabora e Eco Nordeste.
Em muitas redações convencionais, em nome da percepção de que ainda é possível fazer algo pelo meio ambiente por meio do jornalismo, esse ativismo acaba disfarçado. Tal postura pode ser atribuída à reduzida autonomia que este campo profissional ainda tem no Brasil, em função das pressões econômicas e políticas comuns às principais pautas.
É importante ressaltar, no entanto, que o ativismo pró-mercado é geralmente visto como postura profissional aceitável nas redações jornalísticas. Já o (eco)ativismo do jornalista ambiental é, muitas vezes, apontado como sinônimo de amadorismo, de um sujeito contaminado e, por isso, negativo. Como se a emergência climática, a rapinagem e a devastação do Brasil não fossem uma ameaça real que exige um posicionamento ativista.
Desde os anos 1970, os jornalistas engajados na luta ambiental são acusados de praticar um jornalismo menor em função do posicionamento, especialmente se são contundentes em seus alertas. O próprio nome usado para definir a prática – jornalista ambiental – ainda busca aceitação, copiando um termo bem aceito nos Estados Unidos – environmental journalist – e se afastando de definições como ecojornalista e/ou jornalista ecológico.
Nos últimos anos, alguns profissionais têm se apresentado como jornalistas de sustentabilidade, buscando assim um diálogo mais próximo com parte do mundo empresarial, que enxerga os desafios ambientais contemporâneos principalmente como oportunidade de negócios ditos verdes, ou de baixo carbono. Como em qualquer campo, este também é um espaço de lutas entre diferentes posições.
O jornalismo ambiental se sustenta, portanto, a partir de um "assombro" e de uma tomada de consciência diante da complexa trama que gera todos os problemas que devemos enfrentar como sociedade. Pobreza, desigualdade, falta de dignidade, poluição, alterações no regime climático, extinção de espécies e de modos de vida são questões totalmente conectadas, geradas por uma sociedade adoecida e desatenta com o que está ao seu redor. Jornalismo ambiental, desse modo, não existe sem um sentir o mundo, atuando com as dores dos mundos que coexistem. É um ativismo do cuidar, o que não está, de modo algum, fora do horizonte de atividades do Jornalismo.