Como se conectam os conhecimentos ecológicos indígenas e a sustentabilidade florestal?
Neste vídeo, a doutora em ecologia pelo Inpa e pela Wageningen University Carolina Levis explica como se conectam os conhecimentos ecológicos indígenas e a sustentabilidade florestal.
“Esse conhecimento indígena que se integra ao conhecimento científico ecológico é um conhecimento ecológico acumulado ao longo de milhares de anos. O que a gente percebe olhando para esses dados mais ligados à arqueologia e à história de longa duração da Amazônia é que, além de os indígenas terem acumulado um conhecimento ecológico de como manejar a floresta, como manter ela viva, também se acumulou muitas transformações na Amazônia, na floresta, nas savanas, onde são perceptíveis o que eu gosto de chamar de legados dos povos indígenas.
Estamos falando, por exemplo, das terras pretas de índio, que é um conhecimento de manejo do solo, de transformação do solo por meio de várias práticas de manejo e de controle do fogo, que permitiu que esse solo se enriquecesse, formasse um solo fértil que hoje sustenta toda uma biodiversidade diferenciada com outros solos. A gente está falando também de florestas ricas em alimento. Então, onde os povos indígenas viveram, a gente pode perceber que a floresta concentra uma diversidade de plantas diferentes de outras áreas, que são principalmente espécies frutíferas, ou espécies que dão castanhas, como a castanheira, muitas espécies de palmeira, que se concentram nessas áreas e que hoje são super importantes como alimento, tanto para a população amazônica quanto para a população de fora da Amazônia.
Todos esses legados que foram se acumulando, eles hoje compõem o que é a Amazônia. Eles trazem uma importância muito grande global, por exemplo, se a gente pensa no legado dessa ‘domesticação’ que a gente pode chamar da paisagem e das plantas, que gerou a agrobiodiversidade, essa diversidade de alimentos. A gente pode pensar que hoje a Amazônia é um centro de agrobiodiversidade do mundo, onde vários cultivos importantes se originaram na região, como a mandioca, a pimenta, as próprias árvores, por exemplo, a gente pode pensar: a pupunha, a castanha, o açaí… De onde saem inclusive o que hoje chamamos de ‘superfoods’, que são super importantes até para fora da região”, disse.
A pesquisadora faz parte do Brazil LAB do Princeton Institute for International and Regional Studies, um dos parceiros do Nexo Políticas Públicas.