Da alta parte da cordilheira dos Andes, no sul do Peru, nasce o rio Apurímac que, ao longo de seu percurso, recebe muitos nomes: Carhuasanta, Lloqueta, Ene, Tambo, Ucayali, Solimões e, finalmente, Amazonas, desaguando no oceano Atlântico, no norte brasileiro. Esse rio de muitos nomes possui 269 afluentes e se conecta com outros grandes sistemas de águas, como os rios Madeira, Negro, Japurá, Tapajós e Purus, dentre outros. Juntos, eles formam a maior rede hidrográfica do mundo, com 1.700 rios que se estendem por nove países: Bolívia, Colômbia, Equador, Guiana, Guiana Francesa, Peru, Venezuela, Suriname e, é claro, o Brasil.
Ao longo de todo o seu desenho, a bacia impõe condições aos organismos que os conduziram a capacidades adaptativas formidáveis. Nessas águas vivem 20% da diversidade de ictiofauna (peixes) de água doce atualmente conhecida no mundo, além de outros organismos que compõem a biota aquática, como ariranhas, peixes-bois, botos, cobras, jacarés, tartarugas, insetos, plantas aquáticas, etc. Mas também toda a fauna e a flora amazônica terrestre depende, justamente, dos recursos e nutrientes que as águas levam para dentro das florestas graças aos rios e igarapés.
Podemos resgatar aspectos desta longa história até chegar aos dias atuais, com as pressões que o rio sofre diante do desmatamento, de mudanças climáticas, de aumento de temperatura, da maior quantidade de carbono dissolvido nas águas e da menor disponibilidade de oxigênio nelas. Hoje, estamos passando por uma seca histórica na Amazônia que oferece estressores significativos a todas as vidas, humanas e não-humanas, que dependem dos rios.