O microcrédito tornou-se um tópico relevante no debate internacional no fim dos anos 1970, quando Muhammad Yunus criou o Banco Grameen em Bangladesh, expandindo o acesso ao crédito para pequenos empreendedores e famílias de baixa renda.
A ideia do microcrédito é oferecer empréstimos de pequeno valor com taxas de juros relativamente altas e pagamentos quinzenais e imediatos. Por muitos anos, esse tipo de programa era considerado uma ótima solução para ajudar famílias de baixa renda — que normalmente não têm acesso a serviços financeiros — a aproveitar oportunidades de investimento, apoiando o empreendedorismo como uma via potencial para que elas saíssem da pobreza. Em 2013, 211 milhões de pessoas em todo o mundo já haviam pedido empréstimos a uma instituição de microcrédito, das quais 114 milhões estavam vivendo em situação de extrema pobreza 4.
Nesse contexto, as décadas de 1980 e 1990 foram marcadas por diversas iniciativas voltadas para a democratização do acesso ao crédito bancário no Brasil. Um movimento que começou ao nível local em poucos anos levou ao estabelecimento de programas estaduais e federais de microcrédito, como o CrediAmigo e o Programa de Crédito Produtivo Popular. Dada a mais recente crise econômica causada pela pandemia de covid-19, o tema voltou à tona como uma possível solução para apoiar a recuperação de pequenos empreendimentos e trabalhadores informais.
Mas será que o microcrédito tem realmente esse poder de tirar as famílias da pobreza? Uma revisão de sete estudos aleatórios em países de baixa e média renda identificou que o modelo tradicional de microcrédito não gerou investimentos de alto retorno entre os empreendedores de baixa renda e não levou, em geral, a resultados transformadores na renda ou no consumo das famílias no longo prazo.
Uma das possíveis explicações para esses resultados é o fato de que a demanda por microcrédito nesses casos foi inferior ao que muitos de seus defensores haviam previsto. Os investimentos, na maioria dos casos, não geraram um aumento nos lucros ou nos rendimentos das famílias. Por outro lado, o microcrédito não teve impactos negativos e ajudou as famílias a gerir melhor as suas opções financeiras 5 6 7 8 9 10 11 12 19. Os formuladores de políticas públicas com o objetivo de apoiar a redução da pobreza não devem financiar ou subsidiar empréstimos tradicionais de microcrédito, mas, em vez disso, devem apoiar inovações na segmentação de mercado, desenvolvimento de produtos e proteção dos consumidores.