Para responder a essa questão, talvez seja mais importante definir antes o valor do benefício a ser pago, para então investigar qual o escopo e intensidade de mudanças necessárias no orçamento público.
Um programa “barato” poderia ser custeado por meio de rearranjos no orçamento, tomando parte das verbas de políticas existentes sem que programas prioritários sofressem cortes. Um programa mais caro poderia exigir escolhas difíceis de cortes orçamentários ou arrecadação adicional de impostos, medidas que costumam ser impopulares e politicamente custosas. Qual deveria ser então o valor de uma renda para que fosse realmente “básica”?
Suponhamos que esse valor seja de R$ 500 mensais por pessoa. Como temos 212 milhões de habitantes no Brasil, isso implicaria um gasto anual de R$ 1,272 trilhão por ano! Vale dizer que, segundo o Tesouro Nacional, em 2019, o orçamento total da Seguridade Social (soma das áreas de Previdência, Saúde e Assistência) foi inferior a isso: R$ 1,054 trilhão. Uma renda básica de R$ 500 custaria cerca de dez vezes o preço do SUS — que, naquele ano, teve orçamento de R$ 122 bi — e representaria quase 20% do PIB (Produto Interno Bruto).
Esse valor certamente inviabilizaria o programa, mesmo sob a hipótese de fontes adicionais de arrecadação de impostos aliadas ao uso e à realocação de verbas existentes. A título de comparação, o programa Bolsa Família custa em torno de R$ 30 bilhões por ano e paga, em média, R$ 180 reais por família — não por pessoa —, atingindo cerca de um quarto da população brasileira.
O problema é que, possivelmente, os R$ 500 mensais de um programa hipotético de renda básica ainda seriam insuficientes para garantir “uma vida sem privações”, principalmente nas grandes cidades brasileiras.