Cada município corresponde a um governo municipal, sendo governado por um prefeito e uma Câmara de vereadores, de tamanho proporcional à população. São escolhidos por eleições diretas a cada quatro anos. Esse formato institucional é produto de várias escolhas, e são muitos os formatos existentes internacionalmente para os governos locais. Há governos locais escolhidos por eleições partidárias e não partidárias, cidades geridas por prefeitos e Câmara ou por Câmaras associadas a gerentes não eleitos, ou mesmo coletivos de gerentes executivos, escolhidos regularmente dentre os membros da Câmara com composições rotativas. Há uma certa associação entre esses formatos e os escolhidos para a organização do governo em nível nacional, mas nem sempre. No caso dos Estados Unidos, por exemplo, o presidencialismo federal convive com vários formatos diferentes em nível local.
No Brasil, as atribuições formais do prefeito e da Câmara correspondem respectivamente às do Executivo e do Legislativo, como em nível federal. Mas há particularidades importantes que influenciam a vida das cidades, mas que nem sempre são visíveis aos cidadãos. Diferentemente do que se pensa, o prefeito não se assemelha a um mero zelador da cidade, controlando um conjunto importante de recursos e instrumentos de poder, e podendo decidir sobre um conjunto expressivo de temas que têm efeito concreto sobre a vida dos habitantes das cidades, em especial nas políticas com baixa regulação pelo governo federal como as políticas urbanas. Estudos indicam a existência de conteúdos de políticas muito distintos executados por partidos diferentes, indicando a existência e relevância das preferências políticas e ideológicas de prefeitos, diferentemente do que considera grande parte do senso comum. Além disso, a exposição política do prefeito a pressões é maior e mais direta do que de ocupantes do Executivo em outros níveis, sendo necessário solucionar problemas urbanos e atender demandas de forma direta e cotidiana.
Assim como nacionalmente, é raro que os prefeitos brasileiros consigam obter maiorias eleitorais na Câmara de vereadores, razão pela qual coalizões são tão amplamente disseminadas. A formação das coalizões segue a mesma lógica do presidencialismo de coalizão federal, sendo negociados recursos de emendas e indicações, assim como a ocupação de cargos (ou o controle de áreas) no Executivo, em troca do controle sobre a mesa diretora e da votação pelo Executivo. Os partidos têm menor relevância pois as bancadas têm tamanho mais diminuto, e o personalismo das negociações tende a ser ainda maior em municípios pequenos. No caso dos municípios, usualmente se formam coalizões governo vs. oposição. Em cidades de maior porte, não é incomum a existência de vereadores que se colocam como independentes e que discordam publicamente do governo, mas votam com ele de forma regular (embora não obrigatoriamente). A maior parte dos vereadores, entretanto, transita no início da legislatura para a base do governo, inclusive pela dependência que tem de recursos políticos nas mãos do prefeito, como investimentos, obras e indicações para cargos. É efetivamente muito mais fácil ser oposição nacional do que localmente.
O papel de produção legislativa por parte dos vereadores tende a ser menos relevante do que nacionalmente, mas eles muito mais claramente vocalizam demandas territorializadas de partes da cidade. Nem todos os vereadores têm esse tipo de característica, mas os que realmente influem nas políticas urbanas tendem a ter padrões de votação concentrados em certas áreas e a canalizar as demandas desses locais. Por outro lado, são centrais para mobilizá-los politicamente, não apenas durante eleições, mas também durante todo o mandato. Por essa razão, são essenciais para os prefeitos e para a política que esses exercem.