Em janeiro de 2023, o então eleito Presidente da República tomou posse, após quase uma década de um período conturbado da democracia brasileira. Esse tempo envolveu ataques incisivos e constantes a direitos fundamentais de diferentes grupos sociais e ao que chamamos de natureza. As eleições de 2022 significaram, portanto, para amplos setores da sociedade brasileira a retomada do Estado de Direito, e o evento da posse se tornou um momento de afirmação de tais expectativas. Em um futuro novo que se anunciava para o Brasil naquele momento, de esperança de melhores condições de vida e de defesa da diversidade, que é uma sociobiodiversidade, o presidente subiu a rampa do Planalto acompanhado de “representantes do povo brasileiro”, como foi noticiado nos jornais. Subiram a rampa uma criança, moradora de uma área periférica, uma catadora de materiais recicláveis, o cacique Raoni, um metalúrgico, um professor, uma cozinheira e um ativista anticapacistista.
No entanto, por que começo este texto, que trata dos animais, falando da posse presidencial? Porque o presidente, junto com a primeira-dama e as pessoas citadas, subiu a rampa acompanhado também da cadela adotada pelo casal, de nome Resistência. Chamo atenção para esse acontecimento marcante da recente história brasileira, por considerar que a presença de Resistência também pode ser pensada como um marco, já que o Brasil visualizou a chegada dos animais na política pela porta da frente, como novos seres a quem se reivindica direitos. Não é mero fato que o governo federal tenha criado o Departamento de Proteção, Defesa e Direitos Animais, vinculado ao Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima.
Falar da entrada dos animais na política pela porta da frente não significa que essa presença seja uma novidade no Direito, conforme veremos a seguir. No entanto, é inegável que a relação entre animais e política ou entre animais e direito passou por transformações profundas nas últimas décadas, não só no Brasil, mas em diferentes países, que repercutem no Congresso Nacional. Essas transformações refletem uma virada ética a respeito do valor da vida animal e abrem um mundo enorme de lacunas jurídicas a serem preenchidas.
Nunca foi simples legislar sobre a vida animal, devido à tensão entre sua condição de sujeito e objeto, e a partir das diferentes atividades em que estão inseridos. Atualmente, com as reivindicações crescentes sobre direito dos animais, observamos como a lei e a moral se misturam, penetram em situações cada vez mais específicas da vida cotidiana, e nos vemos diante de um momento em que a vida cotidiana e o mundo da política e do direito são atravessados pela “causa animal”. Desta forma, esta linha do tempo pretende mostrar como o Estado brasileiro é cada vez mais pressionado por reivindicações sociais de proteção à vida dos animais, relacionadas tanto ao tratamento humanitário quanto à consideração deles como membros da família.