Ao longo do século 19, por conta do aumento das epidemias e da disseminação das doutrinas higienista, miasmática e mais tarde, sanitarista – ligadas à ideia do controle de doenças, da insalubridade e dos hábitos de vida da população, sobretudo a mais pobre –, governos e agentes privados passaram a construir diversas intervenções para sanear as cidades. Essas medidas coletivizaram soluções antes individuais, constituindo e expandindo as redes de infraestrutura de saneamento.
De modo associado, o país criou uma legislação de restrições e modulações relativas aos modos de morar da população, com códigos de posturas e códigos sanitários que visavam a banir moradias consideradas insalubres, como era o caso dos cortiços e estalagens. A mudança resultou em violentas ações de despejo e remoções. Essas iniciativas expressaram e, simultaneamente, reforçaram importantes deslocamentos nas percepções sociais sobre o papel do Estado e sobre a legitimidade de suas intervenções sobre as sociedades.
Uma parte expressiva dos primeiros serviços de saneamento estiveram associados a concessões a empresas estrangeiras, como a inglesa Companhia City, que operou os serviços de esgotos no Rio de Janeiro entre o Segundo Reinado e as primeiras décadas do século 20 1 . Essa tendência foi até mais forte em outros setores da infraestrutura urbana, como a iluminação pública a gás, impulsionada por uma empresa belga no Rio de Janeiro, ou a geração e distribuição de energia no Rio de Janeiro e em São Paulo, onde imperou a canadense Light. Nos transportes públicos em São Paulo, novamente houve participação da Light.
Na maior parte dos serviços de água, empresas privadas nacionais tiveram forte protagonismo, como é o caso da Companhia Cantareira em São Paulo. Houve também atuação de órgãos públicos da administração direta, que gradativamente encamparam os serviços privados a partir das primeiras décadas do século 20. O período se caracterizou pela fragilidade da comunidade profissional, das empresas e da indústria brasileiras, em grande parte formadas como subsidiárias a esses provedores privados estrangeiros.
A cobertura dos serviços de saneamento até o início dos anos 1930 girou em torno dos 10% a 15%, restrita às áreas centrais das cidades maiores.