Treze de maio traição.
liberdade sem asas
e fome sem pão.
- Oliveira Silveira (1969) 1
Há que se perguntar qual é o sentido do verso do poeta para a educação da população brasileira? Uma resposta possível é que o 20 de Novembro 2 (res)significa a história do Brasil, permitindo, para as novas gerações de brasileiros, o acesso a outra versão da experiência negro-africana no país, que tem início na constituição do Quilombo de Palmares. O quilombo foi uma utopia de liberdade e luta que, contra o escravismo imposto pelo colonialismo português, resistiu entre 1597 e 1695, quando foi destruído.
Entre fatos e mitos, como acontece com todo evento histórico de importância seminal, os inúmeros coletivos negros espalhados pelas universidades brasileiras, que surgem a partir das políticas públicas de ações afirmativas, ao adotarem a expressão “quilombos universitários” ou expressões como quilombagem, estão reivindicando para si outra história que não a oficial. Uma história do Brasil que, ao mesmo tempo, ultrapasse os limites da versão do colonizador e se conecte com as lutas dos negros no Brasil e na América.
A rescrita dessa história já teve início por outras gerações que lutaram para diminuir os impactos do racismo nas gerações seguintes, portanto, os marcos de nossa linha do tempo os privilegiam. A fase da reivindicação por igual acesso à educação se estende até 1950. A partir daí entramos na fase de negociação da ressignificação da história do negro no Brasil, marcada pelo surgimento do movimento negro contemporâneo em 1978. Em 2003, com a aprovação da lei n. 10.639, que alterou a LDB (Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional), criou-se a exigência de recontar a história do Brasil considerando a contribuição do negro.
A nova fase, portanto, está em curso, e ela depende da quilombagem acadêmica-cultural e política de milhares de jovens que adentraram o sistema universitário por meio das lutas sociais negras que ganharam uma nova expressão com a Lei de Cotas (lei n. 12.711) de 2012 e a portaria n. 13/2016 do Ministério da Educação, que estabeleceu as ações afirmativas na pós-graduação. Esta é apenas uma forma de se perguntar o seguinte: faremos Palmares de novo?