Tecnologias no sistema alimentar

Aline Martins de Carvalho

FOTO: Rula Rouhana/Reuters - 1.fev.2023fotografia com zoom em mãos enluvadas que manuseiam muda de couve em fazenda vertical
Conheça conceitos centrais sobre o uso de tecnologias nos sistemas alimentares
  • Agricultura vertical

    Segundo a FAO, agricultura vertical é o cultivo de plantas em um ambiente interno e totalmente controlado, onde é possível produzir o ano todo, independente das condições ambientais. Nesse tipo de cultivo, é possível gerenciar, processar e analisar dados das plantas e do ambiente interno, combinando-os com outras informações, para apoiar decisões de gerenciamento e uso de recursos, qualidade e lucratividade da produção agrícola.

    Instrumentos de captura de dados como sensores e softwares para o seu tratamento são fundamentais na agricultura vertical de precisão. Assim, não apenas pessoas com know-how de agronomia estão envolvidas, mas também equipes de gestão de big data, que podem ter acesso em tempo real das condições da produção e do mercado, por meio de machine learning e inteligência artificial. Segundo John Wilkinson, há uma grande variedade de estrutura, escalas, localização, tipos de produto e de práticas na agricultura vertical, podendo ser usada para produção massiva e venda para supermercados, assim como opções menores para venda direta a restaurantes, instituições e até produção domiciliar. De qualquer forma, a tecnologia parece ser uma das suas principais características da agricultura vertical, e como tal, pode gerar uma desigualdade ainda maior entre campo e cidade, pequenos e grandes produtores.

  • Agroecologia

    A agroecologia é uma forma de produção sustentável que prima pelo equilíbrio entre o solo, as plantas, as condições ambientais e outros organismos. Esse tipo de produção conta com dependência mínima de insumos químicos, fazendo com que a própria produção contribua para fertilidade do solo, produtividade e proteção das culturas, reduzindo seu impacto no meio ambiente.

    Na agroecologia, normalmente se cultiva diferentes espécies ao mesmo tempo, com rotação de cultura, o que pode proporcionar fixação de nitrogênio no solo e controle biológico de pragas. Além disso, a agroecologia normalmente é desenvolvida por diversas pessoas, com uso de conhecimento tradicional e formas de organização local, contribuindo com impactos positivos na sociedade.

  • Carne de laboratório

    Carne de laboratório ou também conhecida como carne cultivada ou carne artificial, é a carne produzida a partir do cultivo de células isoladas de animais vivos ou abatidos. Outra alternativa de se obter carne de laboratório é a partir de células-tronco pluripotentes induzidas, que podem se diferenciar em outros tipos de células. Normalmente essas carnes são processadas para produzir produtos alimentícios comparáveis às versões animais correspondentes, como carne, aves e produtos aquáticos.

    Essa forma de produzir, apesar de ser ainda muito cara e exigir grande tecnologia, vem sendo estudada e utilizada por várias empresas, incluindo startups, devido ao aumento da demanda global por proteínas, especialmente nos países em desenvolvimento. Esse tipo de produção tende a ter menor impacto ambiental por não exigir grandes quantidades de terra e água, apesar de usar grande quantidade de energia. Por outro lado, não se sabe o seu impacto na saúde das pessoas, uma vez que há possibilidade de contaminação microbiológica e transmissão de doenças zoonóticas patogênicas durante a produção.

  • Machine learning 

    Segundo a FAO, machine learning (ou aprendizado de máquina) é um tipo de inteligência artificial e um método de análise de dados que usa algoritmos de computador para automatizar a construção de modelos analíticos. Ela identifica padrões nos dados e assim prevê com mais precisão os resultados, sem instruções humanas explícitas.

    O uso de machine learning vem se espalhando em vários setores da economia, inclusive na produção e processamento de alimentos. Segundo John Wilkinson, machine learning vem sendo usada por startups para rastrear milhões ou bilhões de proteínas em nível molecular para criar novos produtos, como alimentos com sabor muito similar a carnes, mas sem uso de produtos de origem animal.

  • Plant based 

    Uma alimentação plant based (ou baseada em plantas) se refere geralmente ao consumo de alimentos derivados de plantas como frutas, verduras, legumes, feijões, cereais, castanhas e sementes. Mas também pode incluir pequenas quantidades de alimentos de origem animal como leite e derivados, ovos e carnes.

    Já um alimento plant based normalmente é uma alternativa ao alimento de origem animal, por exemplo um hambúrguer sem carne (feito a partir de proteína vegetal, como soja, ervilha, lentilha ou outro alimento), ou um sorvete, iogurte e queijo sem leite. Apesar desses produtos não terem carne (o que se consumido em excesso pode aumentar o risco para doenças crônicas), os plant based não necessariamente são saudáveis e podem ser ultraprocessados, o que vem sendo associado com maior risco de obesidade e outras doenças.

  • Sistemas alimentares

    Os sistemas alimentares incluem todos os atores e suas atividades relacionados à produção, processamento, distribuição, consumo e descarte de alimentos originários da agricultura, pecuária, silvicultura e pesca. Os sistemas alimentares possuem três elementos constituintes: as cadeias de abastecimento de alimentos; os ambientes alimentares; e o comportamento do consumidor.

    A cadeia de abastecimento de alimentos é composta pela plantação, colheita, transporte e processamento dos alimentos. Já os ambientes alimentares incluem estabelecimentos de venda de alimentos como mercados, vendas e restaurantes. O comportamento alimentar considera a compra, preparação, cozimento e descarte de alimentos. Esses sistemas são influenciados por diversos drives como cultura, economia, clima, infraestrutura, políticas públicas e etc, impactando assim na saúde, meio ambiente e sociedade.

BIBLIOGRAFIA

Altieri, Miguel Agroecologia: a dinâmica produtiva da agricultura sustentável / Miguel Altieri. – 4.ed. – Porto Alegre : Editora da UFRGS, 2004. Disponível aqui.

FAO. 2022. The State of Food and Agriculture 2022. Leveraging automation in agriculture for transforming agrifood systems. Rome, FAO. Disponível aqui.

FAO. 2022. Thinking about the future of food safety – A foresight report. Rome. Disponível aqui.

Wilkinson, John. O Mundo dos Alimentos em Transformação. Curitiba: Editora Appris, 2023.

Marchioni, Dirce Maria Lobo; Carvalho, Aline Martins. Sistemas Alimentares e Alimentação sustentável. São Paulo: Manole, 2022.

Aline Martins de Carvalho é professora da Faculdade de Saúde Pública da USP (Universidade de São Paulo) e coordenadora do Núcleo de Extensão da USP Sustentarea.

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