Boa parte das cidades brasileiras, sobretudo as metrópoles, apresenta uma geografia e um desenvolvimento interno desiguais. Nelas coexistem regiões mais e menos providas de serviços públicos e de políticas, criando-se disparidades sociais e espaciais. As periferias costumam concentrar os piores índices de vulnerabilidade, ao passo que as áreas mais centrais geralmente apresentam melhores números. Tais desigualdades afetam a qualidade de vida dos moradores, estreitando suas possibilidades de desenvolvimento e de ascensão social. Quem vive em bairros periféricos enfrenta dificuldades como as muitas horas gastas no transporte público e a falta de saneamento básico adequado, enquanto quem mora nas regiões mais centrais tende a se locomover melhor e a contar com mais infraestrutura urbana. Sobrepõem-se a isso os recortes de raça e de gênero, que, quando traduzidos em preconceito, agudizam a situação de vida já precária dos habitantes das áreas mais desprovidas de políticas e serviços.
Essas diferentes disponibilidades de infraestrutura e de serviços são consequência de um processo de urbanização descontrolado, mas também de décadas de concentração dos investimentos públicos em determinadas regiões da cidade em detrimento de outras. Assim, as áreas desenvolvidas das cidades brasileiras são produto de um processo histórico de acúmulo de capital público, enquanto as áreas periféricas apresentam grandes deficits acumulados de recursos públicos investidos.